domingo, 29 de abril de 2012

Clima e Sítio

Tem-se com o presente texto o objetivo de divulgar a pesquisa que vem sendo realizada junto ao Laboratório de Biogeografia e Climatologia – BIOCLIMA UFV sobre clima e sítio urbano, assim como fomentar discussões sobre o assunto e criar um espaço de diálogo onde possam ser propostas diversas sugestões acerca do assunto.

A pesquisa encontra-se em desenvolvimento e teve seu início no ano de 2010, a partir do projeto intitulado “A importância do sítio no caráter climático nas cidades localizadas na Zona da Mata Mineira”, coordenado pelo Prof. Dr. Edson Soares Fialho e registrado no CNPq. Busca-se com esse projeto compreender e avaliar a influência do sítio urbano na configuração do clima de cidades de pequeno e médio porte, atentando-se para os fatores climáticos locais e do entorno próximo.

As cidades em estudo são Ponte Nova, Teixeiras, Viçosa, Visconde do Rio Branco e Ubá (Figura 1). Embora estejam localizadas em um mesmo Domínio Morfoclimático, o de Mares de Morros Florestados (AB’SÁBER, 2003), caracterizado por vales estreitos e elevações em forma de “meia laranja”, possuem sítios urbanos com características específicas. Apresentam cotas altimétricas distintas e peculiaridades quanto ao relevo circundante.

Localização da área de estudo.

Para atingir os objetivos propostos são realizados trabalhos de campo em diferentes estações do ano. Em cada cidade foram escolhidos três pontos de medições afastados do centro urbano, o primeiro situa-se no fundo do vale, o segundo na média encosta e o terceiro próximo ao topo da vertente. As medições dos parâmetros climáticos (temperatura, umidade, luminosidade, nebulosidade, vento) ocorrem simultaneamente nas cinco cidades nos horários de 9, 12, 15, 18 e 21 horas. Para isso, conta-se com a participação dos integrantes do BIOCLIMA-UFV.


Após a coleta dos dados em campo e a aferição dos mesmos, são confeccionados transetos utilizando-se do software Surfer for Windows® v. 10, para melhor representar o comportamento das variáveis climáticas ao longo dos horários de mensuração, bem como as alterações existentes ao longo do perfil Ponte Nova - Ubá. Abaixo encontra-se um exemplo dos transetos que são elaborados (Figura 2). 


Transeto de Variação de Temperatura do ar ao longo do perfil  Ubá-Ponte Nova, na Zona da Mata Mineira

Os resultados preliminares indicam haver influência das características e localização do sítio no comportamento dos elementos do clima. Por exemplo, no que diz respeito à temperatura do ar, as cidades de Teixeiras e Viçosa, localizadas no planalto, têm apresentado temperaturas inferiores as registradas em Visconde do Rio Branco e Ubá, localizadas na planície. Já Ponte Nova, vem apresentando temperaturas intermediárias, ou seja, inferiores as de Visconde do Rio Branco e Ubá e superiores as de Teixeiras e Viçosa – ver Fialho et al. (2011) e Alves et al (2011). Em situações de instabilidade atmosférica, as tendências observadas se alteram como já observado em medições feitas em agosto de 2011.

Sabe-se que na troposfera a temperatura decresce com o aumento da altitude, numa taxa aproximada de 0,6 °C para cada 100 metros, considerando o gradiente adiabático para o ar úmido (FRITZSONS, et al., 2008).

As análises realizadas até o presente momento indicam que apenas a variação altimétrica não justifica as diferenças existentes no comportamento dos elementos do clima na área em estudo. Afinal, o desnível altimétrico do planalto de Viçosa para a planície de Ubá, de aproximadamente 300 metros, não proporciona, por exemplo, diferenças de temperatura de aproximadamente 10 °C entre essas localidades (FIALHO et al. 2011).

Atualmente a hipótese colocada é que as maiores temperaturas, as menores taxas de umidade relativa do ar, os ventos de menor intensidade, etc, observados em Visconde do Rio Branco e Ubá, quando comparado principalmente a Viçosa e Teixeiras, sejam provocados pela conformação do sítio urbano e pela configuração do relevo circundante a tais cidades.

Ubá e Visconde do Rio Branco encontram-se envolvidas por um conjunto de serras formadas pela reentrância do complexo da Mantiqueira nessa localidade, de origem tectônica. Dessa forma, ambas as cidades situam-se no chamado “Golfão de Ubá” (ANDRADE, 1961), que proporciona a área uma formação de relevo semelhante a uma ferradura quando observado do alto da escarpa de São Geraldo.

Para melhor compreender a relação entre clima e sítio ao longo do perfil Ponte Nova – Ubá novas mensurações vem sendo realizadas, a fim de coletar dados que possibilitem analisar com maior propriedade a influência dos fatores geográficos nas particularidades climáticas dos municípios, assim como discutir a hipótese levantada. Ressalta-se aqui as dificuldades de encontrar na literatura disponível trabalhos em Geografia desse caráter, que possam contribuir para o desenvolvimento teórico-metodológico da pesquisa e sirvam de parâmetro aos resultados previamente encontrados.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

AB’SÁBER, A. N. Os Domínios De Natureza No Brasil: Potencialidades Paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editora, 2003.

ALVES, R. S.; SOUZA, P. O.; FIALHO, E. S. A influência do sítio urbano no comportamento dos atributos climáticos de cinco cidades da zona da mata mineira norte: uma análise comparativa. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA. 14, 2011. Dourados, MS, Anais..., Dourados, MS, 2011, cd-rom.

ANDRADE, M. C. Aspectos Geográficos da Região de Ubá. Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros, São Paulo, Avulso n. 1, 1961.

FIALHO, E. S.; ALVES, R. S.; LOPES, D. I. Clima e sítio na Zona da Mata Mineira: uma análise em episódios de verão. Revista Brasileira de Climatologia, ano 7, v. 8, p. 118-136, jan./jul. 2011.

FRITZSONS, E.; MANTOVANI, L. E.; AGUIAR, A. V. Relação entre altitude e temperatura: Uma contribuição ao zoneamento climático no estado do Paraná. Revista de Estudos Ambientais, Blumenau, v. 10, n. 1, p. 49-64, 2008. Disponível em: http://proxy.furb.br/ojs/index.php/rea/article/view/902/681. Acesso em 21 Dez. 2011.


Texto produzido por: ALVES, Rafael de Souza. Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Bolsista PIBIC/CNPq. Membro do Laboratório de Biogeografia e Climatologia – Bioclima UFV. E-mail rafael.s.alves@ufv.br.




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