Tem-se com o presente texto o objetivo de divulgar a pesquisa que vem sendo realizada junto ao Laboratório de Biogeografia e Climatologia – BIOCLIMA UFV sobre clima e sítio urbano, assim como fomentar discussões sobre o assunto e criar um espaço de diálogo onde possam ser propostas diversas sugestões acerca do assunto.
A pesquisa encontra-se em desenvolvimento e teve seu início no ano de 2010, a partir do projeto intitulado “A importância do sítio no caráter climático nas cidades localizadas na Zona da Mata Mineira”, coordenado pelo Prof. Dr. Edson Soares Fialho e registrado no CNPq. Busca-se com esse projeto compreender e avaliar a influência do sítio urbano na configuração do clima de cidades de pequeno e médio porte, atentando-se para os fatores climáticos locais e do entorno próximo.
As cidades em estudo são Ponte Nova, Teixeiras, Viçosa, Visconde do Rio Branco e Ubá (Figura 1). Embora estejam localizadas em um mesmo Domínio Morfoclimático, o de Mares de Morros Florestados (AB’SÁBER, 2003), caracterizado por vales estreitos e elevações em forma de “meia laranja”, possuem sítios urbanos com características específicas. Apresentam cotas altimétricas distintas e peculiaridades quanto ao relevo circundante.
Localização da área de estudo. |
Para atingir os objetivos propostos são realizados trabalhos de campo em diferentes estações do ano. Em cada cidade foram escolhidos três pontos de medições afastados do centro urbano, o primeiro situa-se no fundo do vale, o segundo na média encosta e o terceiro próximo ao topo da vertente. As medições dos parâmetros climáticos (temperatura, umidade, luminosidade, nebulosidade, vento) ocorrem simultaneamente nas cinco cidades nos horários de 9, 12, 15, 18 e 21 horas. Para isso, conta-se com a participação dos integrantes do BIOCLIMA-UFV.
Após a coleta dos dados em campo e a aferição dos mesmos, são confeccionados transetos utilizando-se do software Surfer for Windows® v. 10, para melhor representar o comportamento das variáveis climáticas ao longo dos horários de mensuração, bem como as alterações existentes ao longo do perfil Ponte Nova - Ubá. Abaixo encontra-se um exemplo dos transetos que são elaborados (Figura 2).
Transeto de Variação de Temperatura do ar ao longo do perfil Ubá-Ponte Nova, na Zona da Mata Mineira |
Os resultados preliminares indicam haver influência das características e localização do sítio no comportamento dos elementos do clima. Por exemplo, no que diz respeito à temperatura do ar, as cidades de Teixeiras e Viçosa, localizadas no planalto, têm apresentado temperaturas inferiores as registradas em Visconde do Rio Branco e Ubá, localizadas na planície. Já Ponte Nova, vem apresentando temperaturas intermediárias, ou seja, inferiores as de Visconde do Rio Branco e Ubá e superiores as de Teixeiras e Viçosa – ver Fialho et al. (2011) e Alves et al (2011). Em situações de instabilidade atmosférica, as tendências observadas se alteram como já observado em medições feitas em agosto de 2011.
Sabe-se que na troposfera a temperatura decresce com o aumento da altitude, numa taxa aproximada de 0,6 °C para cada 100 metros, considerando o gradiente adiabático para o ar úmido (FRITZSONS, et al., 2008).
As análises realizadas até o presente momento indicam que apenas a variação altimétrica não justifica as diferenças existentes no comportamento dos elementos do clima na área em estudo. Afinal, o desnível altimétrico do planalto de Viçosa para a planície de Ubá, de aproximadamente 300 metros, não proporciona, por exemplo, diferenças de temperatura de aproximadamente 10 °C entre essas localidades (FIALHO et al. 2011).
Atualmente a hipótese colocada é que as maiores temperaturas, as menores taxas de umidade relativa do ar, os ventos de menor intensidade, etc, observados em Visconde do Rio Branco e Ubá, quando comparado principalmente a Viçosa e Teixeiras, sejam provocados pela conformação do sítio urbano e pela configuração do relevo circundante a tais cidades.
Ubá e Visconde do Rio Branco encontram-se envolvidas por um conjunto de serras formadas pela reentrância do complexo da Mantiqueira nessa localidade, de origem tectônica. Dessa forma, ambas as cidades situam-se no chamado “Golfão de Ubá” (ANDRADE, 1961), que proporciona a área uma formação de relevo semelhante a uma ferradura quando observado do alto da escarpa de São Geraldo.
Para melhor compreender a relação entre clima e sítio ao longo do perfil Ponte Nova – Ubá novas mensurações vem sendo realizadas, a fim de coletar dados que possibilitem analisar com maior propriedade a influência dos fatores geográficos nas particularidades climáticas dos municípios, assim como discutir a hipótese levantada. Ressalta-se aqui as dificuldades de encontrar na literatura disponível trabalhos em Geografia desse caráter, que possam contribuir para o desenvolvimento teórico-metodológico da pesquisa e sirvam de parâmetro aos resultados previamente encontrados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
AB’SÁBER, A. N. Os Domínios De Natureza No Brasil: Potencialidades Paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editora, 2003.
ALVES, R. S.; SOUZA, P. O.; FIALHO, E. S. A influência do sítio urbano no comportamento dos atributos climáticos de cinco cidades da zona da mata mineira norte: uma análise comparativa. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA. 14, 2011. Dourados, MS, Anais..., Dourados, MS, 2011, cd-rom.
ANDRADE, M. C. Aspectos Geográficos da Região de Ubá. Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros, São Paulo, Avulso n. 1, 1961.
FIALHO, E. S.; ALVES, R. S.; LOPES, D. I. Clima e sítio na Zona da Mata Mineira: uma análise em episódios de verão. Revista Brasileira de Climatologia, ano 7, v. 8, p. 118-136, jan./jul. 2011.
FRITZSONS, E.; MANTOVANI, L. E.; AGUIAR, A. V. Relação entre altitude e temperatura: Uma contribuição ao zoneamento climático no estado do Paraná. Revista de Estudos Ambientais, Blumenau, v. 10, n. 1, p. 49-64, 2008. Disponível em: http://proxy.furb.br/ojs/index.php/rea/article/view/902/681. Acesso em 21 Dez. 2011.
Texto produzido por: ALVES, Rafael de Souza. Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Bolsista PIBIC/CNPq. Membro do Laboratório de Biogeografia e Climatologia – Bioclima UFV. E-mail rafael.s.alves@ufv.br.
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