quinta-feira, 15 de maio de 2014

Abordagem alternativa à teoria da biogeografia insular


A teoria da biogeografia insular, desenvolvida no final dos anos 60 para explicar a riqueza de espécies em ilhas, é um dos pilares da biologia da conservação. Até hoje tem sido amplamente utilizada para estimar taxas de extinção, avaliar riscos ecológicos e é aplicada frequentemente na criação de reservas naturais. No entanto, segundo um novo estudo publicado na revista “Nature”, esta teoria pode tornar-se excessivamente simplista e revelar cenários exageradamente negativos na alteração da biodiversidade quando aplicada à maioria das paisagens antropizadas.

O estudo “Predicting biodiversity change and averting collapse in agricultural landscapes” foi realizado por uma equipa da Stanford University, nos Estados Unidos da América, liderada por Chase Mendenhall e Gretchen Daily e contou com a participação de Christoph Meyer, investigador do Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Os autores testaram a teoria da biogeografia insular comparando comunidades de morcegos em duas paisagens fragmentadas distintas: uma constituída por um mosaico de fragmentos florestais e áreas agrícolas na Costa Rica, e outra por um sistema de ilhas florestadas numa barragem grande no Panamá. No caso do sistema de ilhas do Panamá, o declínio verificado na riqueza específica de morcegos como resposta à perda de habitat foi concordante com as previsões da teoria da biogeografia insular.

Pelo contrário, na paisagem fragmentada da Costa Rica, um grande número de espécies persistiu em habitats agrícolas, como plantações de café, uma evidência bastante mais promissora do que previsto pela teoria insular. Estes resultados foram ainda reforçados e extrapolados a nível global, através de uma meta-análise que incluiu 29 estudos e englobou mais de 700 espécies de morcegos.

Os autores referem a necessidade de uma abordagem alternativa à teoria da biogeografia insular, para melhor explicar alterações na biodiversidade em paisagens antropizadas e concluem que “a teoria da countryside biogeography é essencial para estratégias de conservação em paisagens agrícolas, que representam aproximadamente metade da superfície terrestre do planeta e com um futuro aumento previsto”.

De acordo com Christoph Meyer, “futuras oportunidades para a conservação da vida selvagem dependerão essencialmente de uma gestão adequada deste tipo de habitats alterados, que compõem a matriz de muitas paisagens antropizadas".


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