domingo, 8 de março de 2015

Imagens de paisagens em tempos díspares - Trabalho de Campo de GEO 450-2015

No dia, 7 de março de 2015, a turma de Geografia e Meio Ambiente, da Universidade Federal de Viçosa-MG, realizou um trabalho de campo entre os municípios de Viçosa e Teixeiras, cujo objetivo era identificar as dinâmicas e os processo de transformação da paisagem em suas diferentes temporalidades. Para quem não conhece as duas cidades, Viçosa tem 70 mil habitantes e Teixeiras 11 mil. Uma diferença considerável, uma vez que as duas distam apenas 20 km de distância. Tais números, apenas reforçam a polaridade de Viçosa, como centro atrator de mão de obra das cidades ao seu redor, que ocasiona o aumento da demanda por novos espaços urbanos, como se vislumbra no bairro Santo Antônio, onde as ruas não obedecem as curvas de nível da encosta, mas são perpendiculares a mesmo, muito parecido com a estratégia do cultivo do café do século XVIII, cultivado em fileiras para vigiar a mão de obra escrava nas lavouras.

Criação de novos espaços urbanos, na altura do bairro Santo Antônio.


Em  um segundo momento, já no alto do Belvedere, avistamos o contraste de densidade de construção entre campus universitário e o centro urbano de Viçosa, ao longo do vale do rio São Bartolomeu, que tem suas águas uma das fontes de abastecimento da cidade. ainda bem que a captação do Saae ocorre no campus da UFV. Pois imaginemos se não houvesse tal impedimento, o vale estaria todo ocupado? Uma pergunta sem resposta.

Visão do contraste de densidade  entre o campus da UFV e o centro da cidade de Viçosa-MG

A cidade, embora possa demonstrar uma unicidade passada pela imagem, se apresenta de forma fragmentada em seus mosaicos, que não se intercomunicam. A disparidade entre os serviços públicos prestados entre os bairros visitados é muito grande. Incomoda e reforça a segregação espacial.

As ruas muitas das vezes em declive sem bueiros, auxiliando no processo de formação de enxurradas, durante os eventos episódicos de chuva concentrada, acabam como calçamento na área de espraiamento ao final da encosta, trazendo muito sedimento e muita sujeira. Além disto, as ruas que galgam as vertentes do São Sebastião, e Santa Clara apresentam deslizamento de terra, o que coloca em risco os pedestres e motoristas que convivem com o mato crescendo ao redor de erosões causadas pela fuga água, decorrente da falta de drenagem urbana adequada para drenar a mesma para lugares, onde não possam causar transtornos.


Vista parcial do centro de Viçosa

Vista frontal do centro a partir do alto do São Sebastião
Falar que a cidade não tem planejamento, é chover no molhado. Pois não há como acreditar mais neste tipo de constatação. É frágil a argumentação e leviana, pois assume o fato como posto e irrefutável, sem como corrigi-lo. Acredito na omissão planejada, ato este pensado para criar espaços de manobra futuro e aliviar tensões sociais.

Enquanto isso, o poder público em parceira do privado, estrutura espaços que melhor atendam as necessidades de setores da sociedade, que loucamente pagam o que pedem. Basta pesquisar os alugueis e o preço dos imóveis a venda. Um absurdo e não baixam. Essa prática em grande parte continua, pois quem compra não são moradores que querem fixar residência, mas investidores de cidades como Ubá e proprietários  e meios de produção rural bem sucedidos, que adquirem imóveis para obter uma maior rentabilidade.

Vista da cidade de Viçosa, a partir da parte baixa do São Sebastião

Vista do morro do arrebenta rabicho e o Belvedere. Um contraste só.

Porém, este procedimento de se alijar aquele que reside, é uma visão míope, pois não enxergam que algumas das tensões sociais vividas pela cidade, ocorrem em função do aumento da desigualdade social de Viçosa. Mas, isto não entra na pauta de discussão. E para agravar a situação, a cidade não tem áreas de lazer, que não estejam fora do campus da UFV. Os acadêmicos se divertem em festas privadas, que a muito tempo causam mais transtornos do que benefícios a cidade. E os moradores? Quando tem oportunidade vão para áreas rurais do entorno, deixando a cidade vazia aos finais de semana.

Área central de Viçosa em 1950. Veja se você consegue identificar.

Agora caminhando em direção ao século XVIII, fomos em direção a Fazenda São João, localizada em Teixeiras. A mesa data do final do ano 1790, cujo primeiro dono faleceu em 1822, denominado de Lulu de Deus. A mesma propriedade teve escravos, porém, a senzala foi desmanchada no início dos anos 2000. Mas, mesmo assim, a imponência da Fazenda é tamanha. Cercada por cafezais e matas secundárias em regeneração, o atual proprietário e residente no imóvel, vive do cultivo de café, que hoje segundo o mesmo apenas paga os custos de produção, não tendo grandes vantagens econômicas.  Além disto, o que nos chama a atenção é como hoje, fazendas como a de São João estão fora dos eixos de circulação. Poucos a conhecem, muito em razão do acesso ruim, por conta das estradas de barro, mas sua localização é invejável, pois as estradas terminam e passam pela propriedade dando saída para Viçosa, Teixeiras e Guaraciaba.

Fazenda São João-Teixeiras-MG

Porém, suas histórias correm, como a de que, quando a notícia da abolição da escravatura todos os escravos saíram da fazenda e antes fizeram uma grande festa que durou a noite toda. E diferente de outras fazendas, onde parte dos escravos voltaram, nesta o fato não ocorreu em razão dos castigos corporais que eram aplicados pelo proprietário, tido com um home ruim, mau e sem coração.

Todavia, o que mais nos chamou a atenção para atual situação da questão ambiental na área rural foi a questão da água. Como a dois anos ou melhor, a dois verões não chove de maneira suficiente, o tanque da propriedade está muito abaixo da sua capacidade. E mesmo assim, a solução dos proprietários em busca de água é o barramento das cabeceiras, o que vem a impactar os rios a jusante, que tem seu fluxo reduzido e, quando passam por áreas urbanas ficam praticamente irreconhecíveis, por conta do mau odor e da cor cinza, que reflete a baixa oxigenação.

Como vimos, os impactos ambientais estão em todos os lugares, mesmo em cidades de porte médio (Viçosa-MG), como de pequeno porte (Teixeiras-MG). E muitos destes ambientes degradados tem sua razão na falta de uma maior aplicação de maneira correta dos códigos e legislações municipais, que  proíbem certos atos, mas ao não serem fiscalizados são implementados e regularizados via justiça


Visão do anfiteatro do lago formado na propriedade da Fazenda de São João-Teixeiras-MG


Ladão da represa de cima.

Fazenda São joão ao fundo e a represa d´água da propriedade.

Sr. Roberto Dono da Propriedade e os acadêmicos da Geografia UFV

Vista do anfiteatro e do cafezal ao fundo da Fazenda São João.

LAgo da propriedade com nível muito baixo. O cano de Pvc ficaria recoberto em período normal

Turma de Geo 450 - 2015



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