sábado, 11 de fevereiro de 2012

VERANICO E ZONA DA MATA MINEIRA

A região sudeste do Brasil é uma das mais diversificadas em termos climáticos em função de sua localização latitudinal e longitudinal, variação altimétrica, morfologia, sistemas atmosféricos atuantes, dentre outros fatores e dinâmicas que orquestram seu clima, como já mostrou João Lima Sant’Anna Neto (2005).

A messoregião da Zona da Mata Mineira, por localizar-se no sudeste brasileiro, área de transição climática, reflete parte dessa realidade. Seu relevo dissecado, movimentado, caracterizado por vales estreitos e morros em formato de “meia-laranja”, presença de serras como a do Caparaó e da Mantiqueira, favorecem o aumento da turbulência do ar durante a penetração de sistemas atmosféricos de larga escala, como os Frontais, e a formação de ambientes de clima singulares.
O inverno (seco) e o verão (chuvoso) são as estações mais bem definidas da Zona da Mata Mineira. As temperaturas máximas e mínimas durante essas estações do ano são condicionadas pelo tipo de tempo atuante, associada à variação altimétrica, localização do sítio, posição e orientação dos vales por onde se desenvolveram o processo de ocupação da área.

Nesse verão de 2012 notou-se maior quantidade de chuvas durante o princípio do mês de janeiro, que proporcionou enchentes em municípios da mesorregião como, por exemplo, o de Ponte Nova e o de Guidoval. Nesse começo do mês de fevereiro houve queda dos totais diários de precipitação, em relação ao mês anterior, e dias com ausência de chuvas em determinadas localidades da Zona da Mata Mineira, como verificado nos últimos sete dias nas cidades de Ponte Nova, Teixeiras, Viçosa, Visconde do Rio Branco, Ubá, São Geraldo e outros municípios.

O período de dias com ausência de chuvas durante a estação chuvosa é denominado veranico (CARVALHO et al., 2000). A definição do conceito “veranico” em regiões tropicais é ainda conflituosa, a começar pelas divergências existentes na literatura quanto ao que seria um “dia seco”, como mostram Minuzzi et al. (2005).
O fenômeno veranico pode acarretar prejuízos econômicos aos agricultores por reduzir a produtividade das culturas, principalmente quando a disponibilidade de água no solo é insuficiente para suprir as taxas e evaporação nos campos de cultivo (MINUZZI et al., 2005). Embora o setor agrícola não seja o principal provedor do PIB da Zona da Mata Mineira, as perdas geradas pela falta das chuvas durante o verão podem afetar de forma significativa a renda familiar de pequenos agricultores da mesorregião, por serem eles, na maioria das vezes, os mais suscetíveis ao clima, em decorrência de poucos recursos e infra-estrutura.

Com o veranico as sensações de desconforto térmico sentido pelas populações podem ser agravadas. Pois a ausência de chuvas favorece a diminuição da porcentagem de umidade presente no ar, associado a temperaturas diárias mais elevadas proporcionadas pela estação de verão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, D. F.; FARIA, R. A.; SOUSA, S. A. V.; BORGES, H. Q. Espacialização do período de veranico para diferentes níveis de perda de produção na cultura do milho, na bacia do rio Verde Grande, MG. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 4, n. 2, p. 172-176, 2000.
MINUZZI, R. B.; SEDIYAMA, G. C.; RIBEIRO, A.; COSTA, J. M. N. El Niño: ocorrência e duração dos veranicos do Estado de Minas Gerais. Revista de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 9, n. 3, p. 364-371, 2005.
SANT’ANNA NETO, J. L. Decálogo da Climatologia do Sudeste Brasileiro. Revista Brasileira de Climatologia, v. 1, n. 1, dez. 2005.


Texto produzido por: ALVES, Rafael de Souza. Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Bolsista PIBIC/CNPq. Membro do Laboratório de Biogeografia e Climatologia – Bioclima-UFV. E-mail rafael.s.alves@ufv.br.

Nenhum comentário:

Postar um comentário