O Cerrado brasileiro, considerado atualmente a mais rica savana do mundo em biodiversidade, reúne uma grande variedade de paisagens, um grande número de espécies de plantas e animais. Entre chapadas e vales, com uma vegetação que vai do campo seco às matas de galeria, o Cerrado se estende por uma vastidão de 2 milhões de km2, área equivalente a um quarto do território nacional. Tais dados demonstram que o Cerrado é um bioma rico e globalmente significativo por sua extensão, diversidade ecológica, estoques de carbono e função hidrológica no continente sul-americano, além de sua diversidade sócio-cultural. Apesar disso, trata-se de um bioma profundamente ameaçado pelo avanço da fronteira agrícola e ainda relegado pelo poder público e organismos internacionais. Hoje, o bioma passa por um avançado processo de descaracterização, suas árvores tortas dando lugar a mares de soja, algodão, cana, eucalipto e pastagens para crescentes rebanhos de gado. O estágio de conservação de áreas de Cerrado é pouco expressivo, enquanto o avanço da fronteira agrícola se dá de forma rápida e desordenada.
Além de ameaça a importante biodiversidade, tal quadro de devastação põe em risco uma região que é o berço das águas das principais bacias hidrográficas brasileiras, além da base de sobrevivência cultural e material de um sem-número de habitantes, comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, geraizeiros, dentre outros, que têm no uso de seus recursos naturais a fonte de sua subsistência.
Como resposta ao rápido processo de conversão da paisagem do Cerrado em áreas com finalidades agrícolas, os governos e a sociedade brasileira discutem estratégias de conservação. Uma solução clássica tem sido a de criar áreas protegidas, solução que, se tomada de forma isolada, tende a se mostrar insuficiente para manter as funções ecossistêmicas.
Num bioma caracterizado pela presença de comunidades extrativistas, indígenas, quilombolas e de pequenos produtores agroextrativistas, dentre tantas outras que vêm conservando, de forma efetiva, grande áreas naturais por gerações e gerações; é preciso perceber e valorizar a pequena produção familiar e o extrativismo como aliados da conservação e as populações do Cerrado como seus verdadeiros guardiões.
Nas práticas comunitárias são expressos saberes produzidos de forma coletiva, com base na troca de informações e transmitidos de geração em geração que constituem um patrimônio cultural e cientifico de grande relevância e que precisa ser igualmente preservado. Estimular e valorizar o uso sustentável da sociobiodiversidade do Cerrado constitui, portanto, estratégia fundamental
Andréa Lobo – Professora do Departamento de Antropologia da UnB
Donald Sawyer – Professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB
Donald Sawyer – Professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB
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