domingo, 4 de dezembro de 2011

A ciência foi deixada de lado na COP'

O cientista indiano Rajendra Pachauri, de 71 anos, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), acompanha com frustração a 17.ª Conferência do Clima da ONU, a COP-17. O pesquisador, que concedeu entrevista ao Estado em uma pequena sala VIP no centro de convenções de Durban, avalia que a ciência e os alertas dados pelos cientistas não estão no centro das negociações climáticas.

Para ele, não é necessariamente fundamental garantir a segunda fase do Protocolo de Kyoto nessa reunião, mas é preciso que haja avanços independentemente do acordo que seja escolhido. "Gostaria que houvesse uma forma de tornar a ciência sobre clima uma parte mais central nas discussões nas negociações. Porque pelo menos assim você poderia dizer que não se pode adiar as ações por muito tempo. E tomar medidas pode ser realmente atraente, e não caro", afirma. A reunião segue até a próxima sexta-feira, 9.

Apesar dos alertas do IPCC e do recente relatório especial sobre eventos extremos que mostram os impactos das mudanças climáticas, o avanço nas negociações é muito lento. Como o senhor avalia essa situação?

Nas negociações que estão acontecendo aqui, nós não podemos perder de vista a ciência das mudanças climáticas. Você mencionou corretamente que recentemente publicamos um relatório especial sobre eventos extremos e desastres e como podemos avançar na adaptação (preparação para esses eventos). Eu gostaria de ver uma discussão muito mais focada nessas questões, e o que a comunidade global pode fazer para lidar com esses impactos.

O senhor acha importante focar mais em adaptação?

Acho que precisamos lidar com os dois, adaptação e mitigação (cortes de emissões de gases-estufa). Porque nós não teremos capacidade de nos adaptar a todos os impactos. Podemos nos adaptar a algumas situações, mas, depois de um certo tempo, fica muito difícil e caro fazer isso. Então, precisamos olhar para a mitigação também. Neste ano apresentamos um relatório sobre energias renováveis que claramente mostra que é possível usar muito mais energias renováveis e, com mais pesquisas em seu desenvolvimento, os custos podem cair. O que estou dizendo é que eu gostaria que houvesse uma forma de tornar a ciência sobre clima uma parte mais central nas discussões nas negociações. Porque pelo menos assim você poderia dizer que não se pode adiar as ações por muito tempo. E que tomar medidas pode ser realmente atraente, e não caro.

A ciência então não está no centro da discussão hoje?

Não parece estar. Não estou envolvido diretamente na negociação, mas a acompanho e não vejo a ciência no centro do debate.

As pessoas costumam dizer que os cientistas do IPCC eram radicais e pessimistas. Mas em dois anos novos estudos podem mostrar que a situação é ainda mais perigosa do que o previsto?

Não sei, ainda estamos trabalhando nesse relatório. No relatório especial sobre eventos extremos e desastres, nós apontamos as áreas em que ainda não temos muitas evidências e também as em que as evidências claramente mostram que ondas de calor aumentarão, assim como os eventos de precipitações extremas e a elevação do nível do mar - e isso é uma ameaça a áreas costeiras. Trouxemos todas as informações com um grande cuidado, de forma robusta. Ninguém pode dizer que alguém dentro do IPCC é radical.

Ao contrário, eu ia perguntar se os cientistas não estavam sendo cautelosos demais no relatório de 2007.

Temos muito mais evidências hoje, muito mais pesquisas publicadas sobre mudanças climáticas. E o IPCC funciona com a avaliação de pesquisas publicadas (o IPCC não faz as próprias pesquisas). E, agora, temos muito mais estudos do que nos anos anteriores ao quarto relatório do IPCC, de 2007. Certamente, estamos num nível muito melhor agora. É claro que em algumas partes do mundo temos grandes lacunas, não temos estudos em todos os locais e isso ocorre principalmente nos países mais vulneráveis.

Veja o restante da entrevista no site: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,a-ciencia-foi-deixada-de-lado-na-cop,806550,0.htm

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