sábado, 4 de janeiro de 2014

Ano Novo, Velhos Problemas: Uma reflexão a respeito dos fenômenos atmosféricos no território brasileiro.

Bom dia, a todos os leitores do Bioclima.

Neste início de ano, novos desastres vêm assolar a sociedade brasileira, com ondas de calor na região sul do Brasil e chuvas intensas, decorrentes da atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCAS), que atingiu principalmente, o leste de Minas Gerais e O Estado do Espírito Santo.
E mais uma vez, acompanhamos pelo noticiário os mesmos chavões e frases feitas, afirmando e reafirmando a necessidade de mudança e que a culpa não é minha, mas de um processo histórico de desmandos. Porém, aqueles que dizem isto, ligados ao poder executivo, compõem através de seus partidos a base política de grande parte do s municípios brasileiros, que vem se arrastando por eleições bancadas por atores sociais privados, capazes de potencializar candidaturas, que viram reféns dos financiadores, que exigem a não exigência legal das leis de proteção da natureza, da saúde e educação.
Realmente, a situação nos remete a um cenário, em que não existe apenas vítimas e culpados. Uma vez que, todos os agentes produtores do espaço são responsáveis pela atual situação de crescente vulnerabilidade social e ambiental dos ambientes urbanos e rurais.
E, como as regiões atingidas quase sempre são as mesmas todo verão, os municípios atingidos, quase sempre são os mesmos. O que acaba por criar uma situação de conflito ambiental declarado na periferia dos meios urbanos, quase sempre atingidas. E as soluções não acompanham as demandas locais, muito pelo contrário. Ideias políticas mirabolantes e populistas, como a liberação do FGTS, não resolve. Apenas dá um fôlego para famílias, que guardaram parte de seus recursos depois de anos de trabalho assalariado, mas se estas pessoas voltam a ser atingidas, o recurso do FGTS, deixa de existir, mas o problemas continuam. Tal análise rápida permite demonstrar como governantes não pensam em políticas de longo prazo, apenas de curto prazo, no máximo durante um ciclo eleitoral, revisto a cada 2 anos.
Durante o verão, todos os piores problemas ocorrem de uma vez. Por exemplo, Mesmo durante o período de chuvas, é comum ocorrer veranicos, ou seja, períodos de estiagem que duram entre 15 e 30 dias, tal fato, agrava a situação de abastecimento de água, que tem seu consumo aumentado. Bairros mais longínquos do sistema de distribuição de água sofrem mais, pois são os últimos a receberam águas em suas casas, que muitas destas não têm reservatório, ficando dependente da água da rua. 


 No caso na cidade do Rio de Janeiro, a condição piora, quando se identifica que, no dia 3/1/2013, às 15h (sexta-feira), seis das 10 estações meteorológicas que apresentavam as maiores temperaturas em todo o mundo estavam no Rio de Janeiro. Outras três apontavam temperaturas de outros estados brasileiros. A única temperatura calculada em uma estação fora do Brasil ficava na cidade de El Vigia, na Venezuela, segundo o ranking elaborado pelo meteorologista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) Giovanni Dolif, com base em informações colhidas por 4.232 estações em todo o mundo acessadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).


Ao contrário disto, as chuvas precipitam de maneira intensa e em pouco tempo, produzindo um acúmulo de água tal, que não tendo condição de vazão as áreas baixas ficam repletas de água, como grandes poças, impedindo a trafegabilidade. Fato que se tornou corriqueiro no mês de dezembro de 2013, devido ao canal de umidade primário da América do Sul, conforme a figura a seguir.
  

  
No Espírito Santo, o ano de 2014, principalmente, em Dezembro, como visto na figura acima, os totais pluviais foram acima da média esperada, causando, 25 mortes. A cidade com o maior número de vítimas é Colatina, com oito mortos, seguida por Itaguaçu que registrou seis mortes. Barra de São Francisco contabilizou quatro mortes e Baixo Guandu, três. As cidades de Domingos Martins, Nova Venécia e Pancas registraram uma morte cada. A defesa civil informou que dos 78 municípios do estado, 54 já foram afetados pelas chuvas.

O número de capixabas que precisaram sair de suas casas e ainda não puderam retornar é 60.037. Dessas, 7.396 foram acolhidas em abrigos e 52.641 estão em casas de parentes e amigos. O levantamento das pessoas afetadas pela chuva continua prejudicado pela dificuldade de acesso a muitas localidades, algumas totalmente isoladas pela intensa inundação, sem comunicação, água potável e energia elétrica. Com a diminuição das chuvas, moradores em algumas cidades estão trabalhando na limpeza de ruas e casas.

Para ampliar esta discussão leia os textos recomendados a seguir:

FIALHO, E. S. O clima e a gestão do território: O papel da Defesa Civil no processo de reconstrução das áreas atingidas por eventos atmosféricos extremos. Revista Entre-Lugar, Dourados, v. 3, n. 6, p. 85-108, 2012.

FIALHO, E. S. A dinâmica plúvio-financeira no estado do Rio de Janeiro. Revista de Ciências Humanas- CCH, Viçosa-MG, v. 12, p. 181-201, 2012.


NASCIMENTO, R. A.; FIALHO, E. S. Geografia, Defesa Civil e Organização do Território. In: I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-graduação da Unesp-Rio Claro: Unesp, 2010. v. 1. p. 4559-4574.

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