terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Chuva e Energia

As altas temperaturas no país neste início de ano levaram, na sexta-feira passada, as usinas elétricas a bater seu recorde histórico de produção de energia e trouxeram uma preocupação: o risco de falha nos equipamentos de transmissão e distribuição, o que pode gerar faltas de luz pontuais e localizadas.

A avaliação é do coordenador do Gesel/UFRJ (Grupo de Estudos do Setor Elétrico/UFRJ), Nivalde de Castro. Aliado ao aumento do consumo, o calor "estressa" os equipamentos, que, por sua vez, podem vir a apresentar falhas técnicas pontuais.

Na atual situação, o risco de problemas na transmissão ou na distribuição é maior do que o de questões estruturais -a oferta de energia não acompanhar a demanda, por exemplo. De acordo com Castro, os reservatórios que abastecem as hidrelétricas estão mais cheios do que em janeiro do ano passado e as usinas térmicas continuam em funcionamento, como forma de manter os níveis dos estoques de água das hidrelétricas.

"A Argentina de hoje não é o Brasil de amanhã. Existe a possibilidade de faltas de luz pontuais, sim, mas não por causas estruturais", disse Castro, referindo-se ao apagão de quase dez dias no país vizinho no fim de 2013.

De acordo com boletim do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o país bateu seu recorde de geração de energia na sexta-feira passada, ao registrar, às 14h39, produção de 79.962 MW, 0,05% mais que a marca anterior, do dia 4 de dezembro.

Na sexta, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste tinham 41,96% de sua capacidade - a média em janeiro de 2013 era de 37,46%. A mesma situação é verificada no Nordeste, com reservatórios 39,26% cheios, enquanto em janeiro passado a média era de 32,86%.

Para o professor colaborador da Coppe/UFRJ Roberto D'Araújo, o risco de falta de energia decorre do fato de, com o objetivo de poupar reservatórios de uma ou outra região do país, o SIN (Sistema Interligado Nacional) ter enviado grandes cargas de energia de um canto do país para o outro. No dia do recorde, por exemplo, as usinas da região Norte enviaram 3.916 MW para o Nordeste.

"Uma falha no meio do caminho pode levar a falta de energia em determinada região. Não digo que terá apagão, mas esse transporte grande de carga mostra um desequilíbrio no sistema." Desde 2012, o país mantém ligada boa parte das usinas térmicas com o objetivo de poupar os estoques de águas das hidrelétricas. Do total gerado no dia do recorde, 14,2% vieram das térmicas convencionais, que excluem as usinas nucleares.  As hidrelétricas foram responsáveis por mais de 82%.

Fonte: Folha de Sâo Paulo.


E para completar, o quadro de abastecimento de energia hidrelétrica voltou a ser crítico no país. A situação assemelha-se à apresentada em janeiro de 2013, quando o setor chegou a enfrentar momentos pré-crise de racionamento no consumo, embora os níveis dos reservatórios não estejam em níveis tão baixos como no ano passado. Devido à ocorrência de chuvas abaixo do normal, o Operador Nacional do Sistema (ONS) voltou a ligar mais térmicas para atender a demanda de energia elétrica na próxima semana (entre os dias 11 a 17 de janeiro de 2014), elevando o montante de despacho por ordem de mérito de 10.464 MW médios para 11.756 MW médios. De acordo com o boletim do ONS, publicado nesta sexta-feira, 10, desde o dia 30 de dezembro de 2013, a atuação de áreas de instabilidade na região Sul do país e a passagem de uma frente fria vêm ocasionando chuva fraca nas bacias hidrográficas desta região.

Na próxima semana, a previsão é a de que continue ocorrendo chuva fraca a moderada nas bacias dos rios Uruguai, Jacuí, Iguaçu, Paranapanema e no Tietê. 
Fonte: Jornal Valor Econômico.

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