A chegada da linha férrea, com a criação de uma estação no município de Uyuni, transformou o local no centro dos serviços logísticos e turísticos que envolvem o grande salar, que possui extensão de 10 mil km² e continua crescendo, pois as inundações da temporada de chuva vão espalhando o sal ainda mais. Há 40 mil anos, antes da formação da Cordilheira dos Andes, tudo aquilo era um grande lago salgado.
O chamado Salar de Uyuni se encontra dentro dos povoados de Tahua e Llica, que são proprietários comuns da Incahuasi, uma ilha pedregosa repleta de cactos rodeada por uma imensidão branca formada por sal, parada quase obrigatória dos tours que levam turistas em jipes para cruzar o deserto. As comunidades dividem os ganhos com os ingressos, que custam cerca de 10 reais. Fora isso, as comunidades pouco se beneficiam do turismo, operado pelas agências localizadas em Uyuni, que cobram cerca de 100 dólares por pessoa para um passeio de três dias com tudo incluído.
Sobrevivendo no deserto
Da ilha se pode avistar ao fundo, no sentido oposto ao que seguem os tours, o grandioso vulcão Tunupa. Cruzando em linha reta boa parte do deserto se chega à comunidade de Tahua, localizada nos pés do vulcão e às margens do salar.
Ali não há sinais de turistas, fora um hotel construído e nem sempre ocupado. A pequena praça central quase sempre se encontra vazia, pois os habitantes passam o dia nos plantios. A prefeita de Tahua, Felicidad Lopéz, destaca o cultivo especialmente de produtos andinos, como as batatas, habas (parecido com feijão), o chuño (batata desidratada) e a quinoa, que o povoado se orgulha por ser considerado um dos locais de origem deste grão nutritivo. "Temos que plantar tudo com nosso próprio esforço, com nossas mãos, pois não temos máquinas para isso", afirma a prefeita.
Outro elemento importante para a vida dos habitantes do salar é a lhama, considerado um animal sagrado. "Domesticar a lhama foi parte fundamental para formar nossa cultura, já que éramos errantes por causa do frio. Com o animal conseguíamos cruzar o salar de uma ponta a outra", conta Adelio Florez, do Comitê Cívico de Tahua. "Ela nos dá vestimenta com sua lã, comida com sua carne, combustível com seu adubo e até seus ossos servem para fazer agulhas para costurar".
O sal também é importante, pois além de dar sabor à comida, permite fazer o charque com a carne da lhama, produto fundamental para alimentação local. A comunidade de Colchani, na entrada do Salar, possui uma cooperativa que realiza a extração de sal e lítio, mas não é o caso do município de Tahua, que durante a temporada de chuvas ainda se vê isolado por conta das inundações.
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