Segundo a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN, na sigla em inglês), 20.934 espécies, das 70.294, estão gravemente ameaçadas. Sem contar as 322 espécies só de vertebrados terrestres já extintas.
A revista Science apareceu com capa dedicada à "Fauna que Desaparece". Segundo Mauro Galetti, da Unesp de Rio Claro (Brasil), um dos autores da primeira pesquisa publicada na revista, a chegada do homem na Terra acarretou um crescimento de mil vezes dos tempos de extinção. É todo um complexo de fatores: a pesca e a caça exagerada, o desmatamento e outras ações humanas que provocam o fenômeno chamado defaunação.
De modo que quando se fala em ecologia, não é só floresta e plantas. Tem que ter em conta a biodiversidade, ou seja, toda a diversidade biológica que existe no mundo. Se bem que os processos naturais são indiscutíveis e necessários e toda espécie tem o seu fim, o homem pode fazer uso de um instrumento para se dar folga e mais vida. Porque muitas coisas que a humanidade faz para se tornar “o dono” do planeta, implicam, na verdade, no seu fim. Não adianta ser dono de terra árida.
Por isso a comunidade mundial deve fazer alguma coisa. E a tão elogiada “via diplomática” é um dos primeiros instrumentos a serem usados à nível político internacional. No entanto, cientistas internacionais estão elaborando mais um instrumento para se opor à extinção, que é a “de-extinção” (de-extinction termo em inglês). Este método está sendo estudado também por um grupo de cientistas russos, que irão tentar reavivar o mamute. Mas isso são planos e projetos, e no entanto, há de ser iniciada uma discussão internacional, afirma o professor Mauro Galetti, cuja entrevista segue abaixo.
Mauro Galetti Rodrigues |
– Professor Mauro, os dados que o senhor, junto com outros coautores, publicou na revista Science, mostram que há 322 espécies extintas desde 1500, e que agora estamos vivendo a sexta onda de extinção. A humanidade é realmente tão devastadora?
– Sem dúvida. Os pesquisadores têm levantado essa questão já há algum tempo, sobre a velocidade da extinção após o surgimento do ser humano no planeta. Tem-se chegado à conclusão de que a aceleração das extinções só aumentou desde que o homem apareceu. A gente não sabe quando exatamente foi isso, mas temos certeza de que o homem é um dos principais fatores da extinção da biodiversidade hoje no nosso planeta. E essas extinções, segundo as avaliações, aumentaram mais de mil vezes em comparação à extinção natural. Agora, há de se ter consciência de uma coisa: todas as espécies vão ser extintas um dia. A gente sabe que qualquer espécie que evoluíu no nosso planeta deverá ser extinta. Mas a partir do antropoceno, época em que o homem domina o planeta, essas extinções aumentaram mil vezes. Isso por que? Por causa da destruição de ambientes naturais, poluição, mudanças climáticas e muita caça que ainda existe em várias regiões.
– Quais são as atividades humanas que mais prejudicam a natureza?
– O corte de florestas, tanto para alimentação como para fins medicinais, como para o papel, a caça têm eliminado muitas espécies do nosso planeta.
– O que deveria a comunidade mundial fazer nesta situação?
– Hoje em dia uma das coisas que precisam ser colocadas na agenda global sobre a discussão do meio ambiente é a perda de animais. Não só as mudanças climáticas e o desmatamento, mas tão rápido quanto desmatamento e mudanças climáticas acontece o que a gente chama defaunação. Isso tem que ser discutido: como reduzir defaunação no mundo, em agenda política. Seja uma proteção maior às áreas protegidas, seja a proibição do uso de certos tipos de animais, como os elefantes ou os tigres que estão sendo dizimados na África e na Ásia para fins medicinais. Tem que ter um boicote forte para evitar a extinção dessas espécies.
– Há umas regiões determinadas em que o problema é maior?
– A gente fez um mapa onde estão os locais do planeta em que mais estão sendo reduzidos os animais. É a região tropical ressaltou nesse mapa por ter mais espécies e porque o desmatamento é muito mais rápido nessas áreas. A defaunação está acontecendo no mundo todo. Mais particularmente forte nos trópicos.
– E surgem novas espécies para substituir as extintas?
– Não tem, isso é um grande problema. A gente acha que a tecnologia genética pode restaurar mamute e outros animais. Mas o papel de muitos animais é único no planeta. Há espécies que dispersam sementes, que regeneram a floresta e uma vez que elas são extintas, a floresta perde esse serviço ecológico feito pelos animais de graça. Estas espécies não têm substituição.
– Recentemente, surgiram informações sobre projetos de “de-extinção” ou “ressurreição” de espécies extintas, como o mamute. É possível isso?
– A gente tem conversado bastante com essas pessoas que fazem o que é chamado de de-extinction, que é retrazer, trazer de novo os animais extintos. Mas isso ainda é um pouco ficção científica. Tem-se investido muito nesta linha, porque o avanço tecnológico, advindo da tentativa de trazer um animal extinto, é enorme, porque vai ter muita verba para estudar genética, mapeamento genético que a gente faz, mas é muito pouco provável que isso aconteça. E se acontecer, é com pouquíssimas espécies. É uma alternativa para reverter o quadro da refaunação.
– O senhor poderia comentar a situação com os animais do Brasil?
– O Brasil tem um papel chave em tudo isso, porque é o país que detém a maior diversidade de animais e plantas no planeta. E também é o país que mais perde animais. Então, é fundamental que o país veja e incorpore na política a proteção dos animais silvestres. Que não só veja floresta, floresta. Floresta é importante, sim, ainda que não tenha muitos animais, mas também há muitas áreas gigantes – na Amazônia, na Mata Atlântica – que não têm animais. Que têm floresta, mas não têm muitos animais.
– Podemos, atualmente, imaginar como era o mundo em épocas remotas, o passado da nossa Terra?
– A grande mensagem deste trabalho publicado na revista Science é que o ser humano, destruindo os animais, não vai melhorar a sua qualidade de vida. Muito pelo contrário. Uma boa parte de animais fazem serviço de graça para o ser humano, como a polinização dos alimentos que nós utilizamos, a reciclagem de nutrientes, plantando árvores de graça transportando sementes. O ser humano não poderá sobreviver no planeta sozinho. Ele precisa neste planeta de várias espécies para poder sobreviver. Senão, irá ser o próximo a entrar na lista de animais ameaçados de extinção.
– A humanidade é capaz de reduzir o dano?
– Sim, tem de ser mais sustentável. Os consumidores preocupados com isso, hoje são boa parte do mundo, por exemplo, nos países se desenvolve a reciclagem do material plástico, todas essas coisas. Se você compra uma Nutella, por exemplo, ela é feita de óleo de palma. Essa palma vem de plantações monodominantes do sudeste asiático, por exemplo, a floresta de Bornéu ou de Sumatra está sendo destruída para plantar essa palmeira para fazer esse óleo. O consumidor tem que estar atento a esses produtos que não são ecologicamente corretos e evitá-los. E daí vai ser criado um outro tipo de produto para substituir esse óleo de palma para evitar a destruição da floresta. E então, nessa floresta, você vai ver na natureza o orangotango, o leopardo, enfim, todos os animais que esta floresta tem.
– E se for possível imaginarmos as gerações futuras que pesquisarão a nossa época, qual seria a comparação?
– Eu acho que seria mais ou menos como a gente tem a nossa opinião dos homens da caverna, que não sabiam de tecnologia, não entendiam o que existia. Hoje, na verdade, a ciência tem informações. O problema não é a falta de informações. As universidades do mundo inteiro conseguem diagnosticar e propor estratégias para um planeta sustentável. A esfera maior, agora, é a política. Como é que nós vamos colocar esta discussão em uma agenda ambiental possível para todo o planeta, para que todos façam parte desta agenda ambiental? A China, a Rússia, a Índia, o Brasil, qualquer país que tenha biodiversidade tem que levar isso em conta na sua agenda ambiental.
– Sem dúvida. Os pesquisadores têm levantado essa questão já há algum tempo, sobre a velocidade da extinção após o surgimento do ser humano no planeta. Tem-se chegado à conclusão de que a aceleração das extinções só aumentou desde que o homem apareceu. A gente não sabe quando exatamente foi isso, mas temos certeza de que o homem é um dos principais fatores da extinção da biodiversidade hoje no nosso planeta. E essas extinções, segundo as avaliações, aumentaram mais de mil vezes em comparação à extinção natural. Agora, há de se ter consciência de uma coisa: todas as espécies vão ser extintas um dia. A gente sabe que qualquer espécie que evoluíu no nosso planeta deverá ser extinta. Mas a partir do antropoceno, época em que o homem domina o planeta, essas extinções aumentaram mil vezes. Isso por que? Por causa da destruição de ambientes naturais, poluição, mudanças climáticas e muita caça que ainda existe em várias regiões.
– Quais são as atividades humanas que mais prejudicam a natureza?
– O corte de florestas, tanto para alimentação como para fins medicinais, como para o papel, a caça têm eliminado muitas espécies do nosso planeta.
– O que deveria a comunidade mundial fazer nesta situação?
– Hoje em dia uma das coisas que precisam ser colocadas na agenda global sobre a discussão do meio ambiente é a perda de animais. Não só as mudanças climáticas e o desmatamento, mas tão rápido quanto desmatamento e mudanças climáticas acontece o que a gente chama defaunação. Isso tem que ser discutido: como reduzir defaunação no mundo, em agenda política. Seja uma proteção maior às áreas protegidas, seja a proibição do uso de certos tipos de animais, como os elefantes ou os tigres que estão sendo dizimados na África e na Ásia para fins medicinais. Tem que ter um boicote forte para evitar a extinção dessas espécies.
– Há umas regiões determinadas em que o problema é maior?
– A gente fez um mapa onde estão os locais do planeta em que mais estão sendo reduzidos os animais. É a região tropical ressaltou nesse mapa por ter mais espécies e porque o desmatamento é muito mais rápido nessas áreas. A defaunação está acontecendo no mundo todo. Mais particularmente forte nos trópicos.
– E surgem novas espécies para substituir as extintas?
– Não tem, isso é um grande problema. A gente acha que a tecnologia genética pode restaurar mamute e outros animais. Mas o papel de muitos animais é único no planeta. Há espécies que dispersam sementes, que regeneram a floresta e uma vez que elas são extintas, a floresta perde esse serviço ecológico feito pelos animais de graça. Estas espécies não têm substituição.
– Recentemente, surgiram informações sobre projetos de “de-extinção” ou “ressurreição” de espécies extintas, como o mamute. É possível isso?
– A gente tem conversado bastante com essas pessoas que fazem o que é chamado de de-extinction, que é retrazer, trazer de novo os animais extintos. Mas isso ainda é um pouco ficção científica. Tem-se investido muito nesta linha, porque o avanço tecnológico, advindo da tentativa de trazer um animal extinto, é enorme, porque vai ter muita verba para estudar genética, mapeamento genético que a gente faz, mas é muito pouco provável que isso aconteça. E se acontecer, é com pouquíssimas espécies. É uma alternativa para reverter o quadro da refaunação.
– O senhor poderia comentar a situação com os animais do Brasil?
– O Brasil tem um papel chave em tudo isso, porque é o país que detém a maior diversidade de animais e plantas no planeta. E também é o país que mais perde animais. Então, é fundamental que o país veja e incorpore na política a proteção dos animais silvestres. Que não só veja floresta, floresta. Floresta é importante, sim, ainda que não tenha muitos animais, mas também há muitas áreas gigantes – na Amazônia, na Mata Atlântica – que não têm animais. Que têm floresta, mas não têm muitos animais.
– Podemos, atualmente, imaginar como era o mundo em épocas remotas, o passado da nossa Terra?
– A grande mensagem deste trabalho publicado na revista Science é que o ser humano, destruindo os animais, não vai melhorar a sua qualidade de vida. Muito pelo contrário. Uma boa parte de animais fazem serviço de graça para o ser humano, como a polinização dos alimentos que nós utilizamos, a reciclagem de nutrientes, plantando árvores de graça transportando sementes. O ser humano não poderá sobreviver no planeta sozinho. Ele precisa neste planeta de várias espécies para poder sobreviver. Senão, irá ser o próximo a entrar na lista de animais ameaçados de extinção.
– A humanidade é capaz de reduzir o dano?
– Sim, tem de ser mais sustentável. Os consumidores preocupados com isso, hoje são boa parte do mundo, por exemplo, nos países se desenvolve a reciclagem do material plástico, todas essas coisas. Se você compra uma Nutella, por exemplo, ela é feita de óleo de palma. Essa palma vem de plantações monodominantes do sudeste asiático, por exemplo, a floresta de Bornéu ou de Sumatra está sendo destruída para plantar essa palmeira para fazer esse óleo. O consumidor tem que estar atento a esses produtos que não são ecologicamente corretos e evitá-los. E daí vai ser criado um outro tipo de produto para substituir esse óleo de palma para evitar a destruição da floresta. E então, nessa floresta, você vai ver na natureza o orangotango, o leopardo, enfim, todos os animais que esta floresta tem.
– E se for possível imaginarmos as gerações futuras que pesquisarão a nossa época, qual seria a comparação?
– Eu acho que seria mais ou menos como a gente tem a nossa opinião dos homens da caverna, que não sabiam de tecnologia, não entendiam o que existia. Hoje, na verdade, a ciência tem informações. O problema não é a falta de informações. As universidades do mundo inteiro conseguem diagnosticar e propor estratégias para um planeta sustentável. A esfera maior, agora, é a política. Como é que nós vamos colocar esta discussão em uma agenda ambiental possível para todo o planeta, para que todos façam parte desta agenda ambiental? A China, a Rússia, a Índia, o Brasil, qualquer país que tenha biodiversidade tem que levar isso em conta na sua agenda ambiental.
LISTAS DE ESPÉCIES AMEAÇADAS EM VIGOR
Instrução Normativa MMA nº 03, de 27 de maio de 2003 - Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (considerando apenas os seguintes grupos de animais: anfíbios, aves, invertebrados terrestres, mamíferoes e répteis)
Instrução Normativa MMA nº 05, de 21 de maio de 2004 - Lista Oficial das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Ameaçados de Extinção e Sobreexplotados ou Ameaçados de Sobreextplotação
Instrução Normativa MMA nº 52, de 08 de novembro de 2005 - Altera os anexos I e II da Instrução Normativa MMA nº 05, de 21 de maio de 2004
LISTAS ANTERIORES
Portaria IBDF nº 303, de 29 de maio de 1968 - Fica instituída a Lista oficial brasileira das espécies de animais e plantas ameaçadas de extinção no País.
Portaria IBAMA nº 1522, de 19 de dezembro de 1989 - Reconhece a Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
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