segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A CHUVA QUE FALTA NA AMAZÔNIA

Conhecida mundialmente por sua disponibilidade hídrica, a Amazônia detém cerca de aproximadamente 20% de toda água doce do planeta e possui variados ecossistemas, como floresta de terra firme, igapó, áreas de várzea, campinaranas (também chamadas de Caatingas Amazônicas), matas fechadas e campos abertos. É também conhecida no cenário mundial por sua rica biodiversidade que conta com inúmeras espécies de animais e vegetais. Seu clima é caracterizado por ser quente e úmido e por recebe influencia dos ventos alísios, assim como umidade proveniente do oceano Atlântico.

Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA) as regiões hidrográficas Amazônica contem 304 municípios. Sua bacia hidrográfica ocupa uma área de 6.1110.000 quilômetros quadrados que vai desde suas nascentes no Andes Peruanos até sua foz no oceano Atlântico.

Embora cerca de 50% de toda chuva que cai na Amazônia seja provocada pela própria floresta em virtude da transpiração das plantas, a região não encontra-se isenta dos problemas que são derivados dos períodos de prolongada estiagem, pois, assim como ocorrido em 2005 – ano em que o estado do Amazonas viveu uma das secas mais severas desde de 1963 – o ano de 2010 já ilustra bem este fato.

Para o pesquisador Carlos Nobre do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), três fatores podem estar associados à seca na Amazônia, são eles: o aquecimento do oceano Atlântico, a redução da transpiração das florestas e a fumaça produzida pelas queimadas. Dessa forma, destacando aqui a transpiração das florestas, sua redução desempenha papel significativo no ciclo hidrológico da região, afinal, como dito acima, a mesma é responsável por cerca de 50% de todo índice pluviométrico.

Os rios que formam a bacia hidrográfica amazônica são para muitas comunidades o principal meio de acesso a outras regiões do estado. Em épocas de prolongada estiagem o abastecimento de alimentos, remédios, combustível e outros, ficam comprometidos por causa da diminuição do nível da água nos canais fluviais. O Rio Solimões, cujo encontro com o Rio Negro forma o Rio Amazonas nas proximidades de Manaus, exemplifica esta questão, afinal, a seca que atinge tanto ele quanto seus afluentes Purus e Juruá, já deixaram quatro municípios do Amazonas isolados (ESTADÃO. COM. BR). A reportagem exibida pelo painelglobal.com.br, diz que:

“O Rio Solimões é a principal via de transporte dos municípios do interior do Amazonas. Medições feitas no dia 9 confirma que o nível havia chegado a menos 32 centímetros, abaixo portanto do nível da régua. Esse valor é menor que o número registrado durante a seca de 2005, quando a lâmina de água ficou 2 centímetros acima de zero.”

Os efeitos da estiagem provocada pela redução das chuvas colocam em evidência determinados setores da economia da região. Com a diminuição da lâmina de água as embarcações de baixo calado passam a ter dificuldades de navegar devido ao risco de encalharem nos bancos de areia. Dessa forma o escoamento de certos produtos fica prejudicado, como é o caso da soja transportada a partir de Porto Velho quando a seca atinge o Rio Madeira. O baixo nível das águas neste rio prejudica também o tráfego na BR-364 que é dependente de balsas, proporcionando extensos congestionamentos de carros e caminhões. Neste cenário, apenas embarcações de pequeno porte conseguem navegar sem maiores problemas pelas águas da bacia amazônica, que por todos os efeitos, não deixa de prejudicar o abastecimento de comunidades, sobretudo aquelas mais distantes dos principais centros comerciais.

A falta de chuva no Peru, onde encontra-se a “cabeceira” do Rio Amazonas, também exerce influencia no nível das águas em grande parte da bacia. Quando os níveis das águas rebaixam de forma significativa pode provocar a morte de centenas de peixes, comprometendo assim a qualidade da água usada pelas populações ribeirinhas.

Texto produzido por: ALVES, Rafael de Souza. Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Membro do Laboratório de Biogeografia e Climatologia – UFV. rafael.s.alves@ufv.br

FONTES DE PESQUISA:

1. MEMDOÇA, Bruno. Amazônia Brasileira: solos e ambientes. Universidade Federal de Viçosa. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Curso de Geografia. XIII Simpósio de Geografia Física Aplicada. Viçosa, julho de 2009.

2. www.estadão.com.br/estadaodehoje/20100906/not_imp605845,0.php. Acessado em 26/09/2010.

3. www.painelglobal.com.br/direto.php?id=dat_20100914-154045.inc&tf=1284489645. Acessado em 26/09/2010.

4.www.d24am.com/amazonia/meio-ambiente/municípios-do-am-ja-sofrem-com-seca-do-rio-amazonas-no-peru/6426. Acessado em 26/09/2010.

5. pt.shvoong.com/humanities/1710126-seca-na-amazonia/. Acessado em 26/09/2010.

6. clippingmp.planejamento.gov.br/cadastro/noticias/2010/9/14/flagelo-da-seca-atinge-a-amazonia/. Acessado em 26/09/2010.

7. www.2.ana.gov.br/paginas/portais/bacias/amazonica.aspx. Acessado em 26/09/2010.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto Rafael! Gostei do que li. Você está de parabéns companheiro!

    Apenas uma questão: "...cerca de 50% de toda chuva que cai na Amazônia seja provocada pela própria floresta..."

    Bem, o nome disto é RECICLAGEM LOCAL DE UMIDADE. É 50% mesmo? Este valor está correto? Creio que não companheiro. Cinquenta por cento era o que se imaginava na década de 1970 e início dos anos 80. Porém, posso lhe assegurar que o valor da reciclagem de umidade na Amazônia é menor. Se tiver curiosidade em saber um pouco mais sobre o assunto, leia o artigo do KEVIN E. TRENBERTH, publicado no Journal of Climate, de 1999. Se você não tiver tal artigo posso lhe encaminhar por e-mail. Um abraço e continue produzindo!!

    Saudações Geográficas!

    Vinícius Machado Rocha
    Geógrafo - Msc. Clima e Meio Ambiente
    Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
    e-mail: vinicius@inpa.gov.br

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