Na semana passada discutimos sobre a relação entre umidade do ar e práticas de queimadas, onde enfatizamos a maior incidência da radiação solar sobre a superfície da Terra durante os meses de inverno e a maior evapotranspiração dos vegetais. Hoje, como já indicado no título da postagem, iremos discorrer sobre o conceito de bioma e a ocorrência de queimadas nestas áreas.
O conceito de bioma veio ao longo dos tempos passando por certas transformações e variando em determinados pontos de acordo com cada autor. A primeira definição de bioma levava em consideração apenas o clima e a vegetação de uma área geográfica qualquer como sendo os únicos responsáveis pelas características de um determinado bioma. Já a segunda definição de bioma pautava-se no clima, na vegetação e na fauna de uma dada região. Por fim, a terceira definição de bioma referente-se a Walter, que leva em consideração além do clima e da vegetação, a influência do solo e da altitude como fatores que podem interferir nas características fitofisionômicas de uma paisagem.
Segundo COUTINHO1, o conceito de bioma desenvolvido por Walter é um dos mais modernos e aborda uma perspectiva ecológica e prática. Em seu conceito, Walter utiliza palavras como zonobiomas, eubiomas, orobiomas e pedobiomas, de modo à melhor analisar as especificidades existentes dentro dos próprios biomas.
Os diferentes conceitos de bioma é ainda hoje uma das questões discutidas nos cursos de Biogeografia, afinal, cada um deles possui suas particularidades e ampliam o arcabouço teórico deste ramo do saber.
Embora, segundo SILVA (2006), grande parte das queimadas e suas implicações à saúde humana ocorram em áreas urbanas, faz-se necessário atentarmos também às práticas de queimadas desenvolvidas em biomas, principalmente naqueles já amplamente devastados pela ação antrópica como a Mata Atlântica. Muitas das vezes, os incêndios causam perturbações e fragmentações que podem demandar longos anos até que a área afetada se regenere e retorne ao seu equilíbrio, o que significa uma baixa resiliência do ambiente pertubado.
As queimadas realizadas em biomas que possuem fitofisionomias de grande porte e elevada densidade (por exemplo, a floresta Amazônica e a Mata Atlântica), intensificam o chamado efeito de borda. Este é derivado da entrada de luminosidade no interior das matas e biomas, podendo ocasionar alterações na umidade da área afetada e, conseqüentemente, modificações no ecossistema. A abertura de fragmentos, cuja gênese não se restringe somente a práticas de queimadas, segundo VIANA (1998, p 26), “(...) introduz uma série de novos fatores na história evolutiva de populações naturais de plantas e animais. Essas mudanças afetam de forma diferenciada os parâmetros demográficos de mortalidade e natalidade de diferentes espécies e, portanto, a estrutura e dinâmica de ecossistemas.”
Curiosamente, no bioma cerrado (denominado também como “Savana brasileira”) a propagação de queimadas é um fator natural a este ecossistema. A vegetação de cerrado – do tipo xerófila – desenvolve-se em um ambiente de relativa escassez de água, sobre solos pobres quimicamente, rasos e com presença de fogo em determinadas épocas do ano. Geralmente o clima em ambientes de cerrado se caracteriza por duas estações bem definidas no decorrer do ano, uma chuvosa e a outra seca, sendo nesta última a mais favorável a ocorrência de incêndios.
No entanto, mesmo sobre um ambiente sensível, o cerrado é um bioma de significativa biodiversidade. Possui espécies de flora e fauna endêmicas que estão tornando-se cada vez mais parcos devido à degradação do bioma.
Texto produzido por: ALVES, Rafael de Souza. Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Membro do Laboratório de Biogeografia e Climatologia – UFV. rafael.s.alves@ufv.br
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