terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Águas de Janeiro - Parte 8

A cultura da reparação em vez da prevenção contra desastres causados pelos eventos pluviais extremos a cada reinício de ano é razão de apreensão à grande maioria dos recém-empossados prefeitos mineiros. Apesar de conhecerem bem os estragos que todo ano surgem com os temporais, a surpresa dos novos prefeitos se encontra na falta de projetos para evitar que inundações e desabamentos se repitam. Sem planos ou estratégicas elaboradas pelos seus antecessores e com dificuldades para garantir recursos emergenciais para obras de prevenção, resta aos prefeitos contar com a ajuda dos céus para que as chuvas, que este ano chegaram atrasadas, não venham de uma vez só. 


O novo prefeito de Além Paraíba, Fernando Lúcio (PSB), se apega à fé em São Pedro para que as tragédias de janeiro do ano passado não se repitam com a intensificação das chuvas. “Acredito que teremos, por parte de São Pedro, uma trégua e poderei preparar a cidade para o ano que vem”, afirma o prefeito. “Fé no santo é o nosso lema”, complementa.
 A cidade com 34 mil habitantes, na Zona da Mata, localizada na divisa com o Rio de Janeiro, tendo como limite geográfico o Rio Paraíba do Sul. No ano passado (2012), o Rio Limoeiro, afluente do Paraíba do Sul, arrastou casas, carros e alagou ruas inteiras. Além disso, o relevo acidentado da cidade, com casas construídas em encostas, contribuiu para vários deslizamentos. Na madrugada de 9 de janeiro do ano passado quatro pessoas morreram carregadas pela enxurrada. Na cidade vizinha, Sapucaia (RJ), 22 pessoas morreram devido aos deslizamentos. 

Fernando Lúcio critica os feitos da administração anterior, mas também tem sua parcela no histórico da cidade, pois foi prefeito entre 1983 e 1986 e 1993 e 1996. O prefeito aguarda uma verba do Ministério das Cidades, estimada em R$ 15 milhões, e também as licenças ambientais para intervir no Rio Limoeiro. De acordo com Lúcio, a Fundação Rural Mineira (Ruralminas) já emprestou as máquinas, mas trâmites burocráticos impedem a limpeza. “Nos últimos anos foi feito muito pouco devido às dificuldades financeiras”, lamenta o prefeito.

Já em Guidoval, também na Zona da Mata, outra cidade que foi arrasada pelas chuvas no ano passado, a expectativa da nova prefeita, Soraia Vieira (PSDB), é melhor: “Tem muita coisa para fazer, mas 70% da limpeza do Rio Xopotó foi feita”, afirma. As chuvas de janeiro do ano passado deixaram 120 famílias desabrigadas e causaram a morte de duas pessoas.
 A força do Rio Xopotó arrastou a ponte que ligava os dois lados da cidade. Uma outra foi construída e uma nova estrada foi aberta. Porém, no local da antiga ponte, que servia também de passagem para pedestres, uma passarela, orçada em R$ 97 mil, ainda não foi construída, apesar de ter a entrega marcada para este mês. “Foram detectadas irregularidades”, explica a prefeita. A expectativa de Soraia é receber uma verba de R$ 800 mil para concluir três pontes na área rural do município, também destruídas há um ano.

Ponte provisória do Exército em Guidoval, após as cheias de janeiro de 2012

Corte de encosta para construção de estrada ligando a ponte em construção
Construção da ponte nova em Guidoval em maio de 2012
Vista parcial da área urbana central  do município de Guidoval-MG

SEM PLANOS Em Itabirito, na Região Central de Minas, a falta de ações a longo prazo para evitar alagamentos nos bairros ou quedas nas encostas às margens das estradas surpreendeu o prefeito eleito Alex Oliveira (PSD). A cidade, que teve situação de emergência decretada e vários bairros inundados, recebeu no ano passado R$ 829 mil por meio de créditos extraordinários para ações de defesa civil. O montante, no entanto, foi destinado para ajudar moradores em situação de emergência por meio de ações da defesa civil, e nada foi liberado para obras de prevenção.  “Além de não existir qualquer projeto ou estudo para ações contra os desastres naturais, até mesmo ferramentas básicas da prefeitura foram roubadas”, lamenta Alex. Torcendo para que as chuvas desta temporada venham de forma mais espaçadas ao longo do verão, o gestor já alerta que caso os problemas de 2012 se repitam, serão possíveis apenas ações menores para amenizar as perdas da população. “Com todos os contratos rescindidos, com as ruas esburacadas e sem tempo nem dinheiro para licitar obras maiores, só vamos poder mesmo aliviar os estragos”, afirma Alex.

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