terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Conversando sobre Climatologia com Eberval Marchioro (UFES)


BIOCLIMA: Prof. Eberval, embora seja um cidadão capixaba, acredito que deva conhecer outras regiões do Estado do Espírito Santo. E como no nosso blog temos leitores de diversas partes do Brasil, gostaria que pudesse explicar as diferenciações climáticas que se apresentam no Espírito Santo.

O estado do Espírito Santo possui uma diversidade climática decorrentes da orografia (altitude, forma e orientação das encostas), da maritimidade/continentalidade entre outros, assim como da dinâmica atmosférica. Assim, de maneira geral, no centrosul do Espírito Santo, onde encontra-se a presença da Serra da Mantiqueira próxima ao litoral, na porção a barlavento, são registrados os maiores totais mensais e anuais acumulados de precipitação em relação ao norte e noroeste do referido Estado. Em termos térmicos, a orografia ocasiona menores temperaturas na região denominada de Serrana, em relação ao restante do Estado. Já na região norte do Estado do Espírito Santo, onde a orografia está mais afastada do litoral, a latitude associada à continentalidade ocasiona temperatura mais elevadas ao longo de todo o ano, que associada aos menores valores pluviométricos propicia baixa disponibilidade hídrica, criando uma região de deficiência hídrica.

No mapa abaixo pode ser visto os Domínios Climáticos do estado do Espírito Santo, de acordo com o instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

BIOCLIMA: Os eventos pluviais intensos que freqüentemente assolam os estados do centro-sul do Brasil, provocando muitos danos nas áreas urbanas. Porém, pouco se registra no noticiário nacional os problemas que o Estado do Espírito Santo associado as chuvas. Nesse sentido, pode-se dizer que o Estado do Espírito Santo está mais bem preparado para atuar frente aos eventos pluviais intensos?

Não acredito. Apesar de não participar diretamente desse contexto de prevenção de desastres naturais associado a defesa civil estadual e municipais, observei ao longo dos últimos anos uma tendência da implementação desses órgãos visando minimizar desastres naturais. Em alguns municípios capixabas a defesa civil ainda encontra-se em fase prematura de desenvolvimentos de trabalhos e/ou incipiente em ações preditivas. Diante disto, por estar localizado em uma região de transição, onde coadunam características físicas do relevo e a intensificação da ação antrópica, verifica-se o aumento da ocorrência de inundações e movimentos de massa de média a baixa magnitude, quando comparado, por exemplo, ao Rio de Janeiro e São Paulo.

Visando contribuir com a minimização dos desastres naturais no Espírito Santo, no Departamento de Geografia da UFES, foi criado do Centro de Prevenção de Desastres Naturais do Espírito Santo (CEPEDES), que por meio de mapeamentos e modelagem hidrossedimentológica, tem o intuito de minimizar os efeitos dos desastres naturais, contribuindo para a gestão e planejamento ambiental dos municípios capixabas.

BIOCLIMA: De acordo com o seu estudo desenvolvido para o noroeste fluminense, que procurou analisar a aplicabilidade do código florestal brasileiro como o subsídio ao planejamento ambiental. Pode-se que a possível aprovação da nova proposta do código florestal, que se encontra no Senado brasileiro irá acarretar quais prejuízos ao planejamento ambiental?

Inicialmente, no estudo no noroeste fluminense, levando-se em consideração o uso e ocupação da terra atual, foi verificado que as áreas com maior declividade associada a outras características físicas e do solo da bacia do córrego Santa Maria, mostraram-se mais susceptíveis a erosão dos solos, aumentando a contribuição de sedimentos para o canal fluvial. Com a simulação de um cenário ambiental por meio da modelagem matemática levando em consideração as áreas de APP estabelecida no artigo 2º pelo Código Florestal Brasileiro (CFB) em vigência, verificou-se uma redução nas áreas fontes de produção de sedimentos, bem como das áreas disponíveis para a agropecuária nos locais de maiores declividades e próximas ao canal fluvial mais dissecado. Considerando tais resultados, é possível afirmar que do ponto de vista da erosão dos solos nas encostas, com a entrada em vigência da nova proposta do Código florestal, ocorrerá um aumento das áreas fontes produção de sedimentos nas encostas, uma vez que serão utilizadas para agropecuária, na maioria das vezes sem práticas de manejo e conservação agrícola, contribuindo para o aumento de material particulado que atinge o canal fluvial.

Outra característica desta nova proposta será o aumento da disponibilização de áreas para diferentes finalidades, tais como a residencial, corroborando para uma maior susceptibilidade a erosão de solos, inundações e movimentos de massa, exigindo medidas que podem gerar custos maiores aos cofres públicos. Para tentar elaborar qualquer alteração no CFB em vigência, faz-se necessário um estudos que envolva os diversos seguimentos da sociedade civil e das universidades, institutos etc.. capaz de estabelecer critérios para estimar uma área mínima de APP (podendo ser por regiões geográficas que considerem as características do uso e ocupação da terra, do relevo etc..) que não potencialize os desastres naturais.

BIOCLIMA: O processo erosivo muitas vezes se encontra associado a dinâmica das chuvas, porém, em algumas regiões o desenvolvimento desses processos erosivos desencadeia a formação de voçorocas imensas. Neste caso a questão das chuvas seria ainda um fator de maior relevância, como por exemplo, em Gouvia-MG?

Apesar de estar algum tempo afastado das pesquisas desenvolvidas no Município de Gouveia em Minas Gerais, no meio tropical quente e úmido, o principal agente desnudador do relevo terrestre é a ação das águas pluviais em áreas com atividade tectônica sem relevancia, tal como Gouveia. No caso de Gouveia, outros elementos da paisagem como o piping (feição subsuperficial), as mudanças no uso e ocupação da terra, características físicas do solo e das encostas, contribuem para intensificação da ação pluvial para a desnudação do relevo ao longo do tempo, bem como para a formação de voçorocas.

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